quarta-feira, janeiro 18, 2006

Orgulho.

«Ao regar a flor pela última vez e ao preparar-se para a cobrir com a redoma, reparou que tinha vontade de chorar.
- Adeus - disse à flor.
Ela não respondeu.
- Adeus - repetiu.
A flor tossiu. Mas não por causa da constipação.
- Fui tola - disse, por fim. -Perdoa-me. Trata de ser feliz.
Surpreendeu-o a ausência de censuras. Deteve-se, muito perturbado, com a redoma na mão. Não compreendia aquela afabilidade calma.
- Sabes, eu amo-te - disse a flor. - Nunca to disse, a culpa é minha. Não faz mal.Mas foste tão tolo como eu. Trata de ser feliz... Deixa aí a redoma. Já não a quero.
- Mas o vento...
- Não estou tão constipada... O ar fresco da noite até me vai fazer bem. Sou uma flor.
- Mas os bichos...
- Terei de suportar duas ou três lagartas, se quiser saber como são as borboletas. Dizem que são muito lindas! Se não, quem virá visitar-me? Tu, tu estarás longe. Quanto aos bichos grandes, não tenho medo nenhum. Tenho as minhas garras.
E mostrou, ingenuamente, os quatro espinhos. Depois prosseguiu:
- Não estejas com delongas, é irritante. Decidiste partir. Vai-te embora.

Porque não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muitíssimo orgulhosa...»

O Principezinho, Saint-Exupéry