quinta-feira, outubro 05, 2006

há frases que fazem mais sentido isoladas

às vezes parece que as palavras se perdem cá dentro, param na garganta ou escondem-se debaixo da língua, preferindo travar amizade com o silêncio. mergulhei, sem ter a certeza que tinha inalado ar suficiente para aguentar o mergulho. mas dentro de mim algo me diz que vou ter fôlego para aguentar muito tempo. há um piano que não pára de tocar na minha cabeça. há uns dedos que fazem uma gentil pressão sobre as teclas. os dedos, em simbiose com o piano, cantam. conseguem cantar dentro de mim. a minha caneta tem voz. às vezes é no papel que falo mais alto. e outras coisas que queria dizer. tantas. acho que isto não é uma despedida muito séria, no fundo, sei que vou precisar de um espaço assim de novo. mas agora sinto-me cansado. acho que já chega. preciso de me desconectar de muita coisa. esta é uma delas, não que me vá ajudar muito. abandonar este espaço, é abandonar uma parte de mim. e este espaço, inclui muito mais, o teu. não estou a exagerar. mas sinto que tem de ser assim agora. até quando não sei. até breve, talvez seja melhor.
FIM

segunda-feira, outubro 02, 2006

sossego

deixo-me levar pelas escadas rolantes como deixo a vida trazer-me o vento para me acariciar a face. como deixo a vida mostrar-me tudo sobre ela. nesta estação de comboio, tenho uma bonita vista sobre a cidade. um véu cor-de-rosa cobre-a, pousado sobre o telhado das casas; as cores parecem querer falar connosco. como nos quadros. a alguns soa um doce “até amanhã” e a outros um “pronto, já passou”. porque há dias que correm melhores a uns que outros. mas estas cores confortam da mesma maneira. deve ser a forma de Deus compensar-nos a todos por igual. se é que ele existe.
sinto a brisa quente como um abraço. a minha blusa parece querer voar com o vento, que sopra muito levemente, mas o suficiente para deixar uns milímetros da minha pele visível. faz-me lembrar as tuas mãos.
quando tenho saudades tuas, o vento parece-me acalmar-mas por dentro e elas nunca são exageradas. às vezes ele arrepia-me, como só tu conseguias fazer. e eu chego a pensar que também estás no vento.
desperto com a voz a anunciar o meu comboio. lembro-me de como antes saltava do banco e sentia aquele friozinho na barriga sempre que ia ter contigo; não foi só nos primeiros dias. foi sempre. agora não tenho o sorriso sempre colado no rosto, há muito tempo que não sinto dores de barriga, e até a voz da senhora que anuncia os comboios me parece mais triste.

não é que tudo o que existe em mim e à minha volta tenha morrido contigo. não é que eu me deixe morrer mais depressa para ir ao teu encontro. já não. é que ainda estou a descobrir o mundo. e dói-me, que agora o tenha de descobrir sem ti. dói-me que agora me pareça tudo menos doce. e este ardor que sinto no peito que não desaparece… nem com estes fins de tarde que antes me sossegavam tão bem.

domingo, outubro 01, 2006

Frase que mais me apeteceu dizer ontem: és uma pessoa que eu adoraria odiar.

sábado, setembro 30, 2006

But in my silly mind I've gotten married to you

a noite enche-se de mim. e eu até já senti paixão, paixão até aos ossos, até doer e massacrar. e eu até aprendi a ganhar calo e a esquecer as rupturas musculares, a fadiga das noites a pensar em nós, debaixo da neblina das horas. e eu até senti ódio, até aos ossos, até doer e massacrar. e eu até aprendi a esquecer o ódio e a limpar o que odiava. e eu até me lembrei, esta semana, que faço parte daquela raça estranha dos que correm nos passeios e param de correr, logo depois. e eu sei que corro porque os dias andam. eu até sei que nunca chamo as coisas pelos nomes e que troco os adjectivos e conjugo mal os verbos. eu até sei que fui feito para estar sentado em silêncio, mas a vida fez-me entrar na maratona das palavras. and this life is so boring, mas só nos intervalos, quando não há o cheiro da luz.

terça-feira, setembro 26, 2006

Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means that someone can get inside you and mess you up. You build up all these defenses, you build up a whole suit of armor, so that nothing can hurt you, then one stupid person, no different from any other stupid person, wanders into your stupid life...You give them a piece of you. They didn't ask for it. They did something dumb one day, like kiss you or smile at you, and then your life isn't your own anymore. Love takes hostages. It gets inside you. It eats you out and leaves you crying in the darkness, so simple a phrase like 'maybe we should be just friends' turns into a glass splinter working its way into your heart. It hurts. Not just in the imagination. Not just in the mind. It's a soul-hurt, a real gets-inside-you-and-rips-you-apart pain. I hate love.

Neil Gaiman.

domingo, setembro 24, 2006

glow

achei piada à maneira como as coisas aconteceram. impiedosamente rápidas, como a rua a fugir na direcção oposta do outro lado do vidro, embaciado, sonolentamente riscado pelas luvas. eu no meio, a sofrer uma dor imaginada pelo tédio dos dias - tédio não será a palavra certa, talvez arrastamento - porque sempre que penso certas coisas elas se detorpam e adquirem novas formas e eu fico como se estivesse há semanas deitado a olhar para as nuvens que são assim mesmo, num estado de confusão inocente que se explica com a minha pequenez (em relação às nuvens, porque em relação aos meus pensamentos será algo mais que um problema de tamanho). tudo isto enquanto recriei paixões por todas as coisas e todas as pessoas, com a voracidade de alguém que vai partir de viagem dentro de pouco tempo e vai pondo tudo na mala, pondo e tirando, achando que tudo é necessário, mesmo as coisas pequenas porque estão cá e fazem parte do que vou deixar, as molduras e todos aqueles livros e a vela que já vai queimada p'la metade e todas as fotografias e aquela caixa de que tanto gosto. mas nunca vai caber tudo na mala e é por isso que o desespero ataca e me sinto com vontade de me sentar quieto na cama a olhar ridiculamente para a parede. sem me deixar pensar nisso. porque sinto saudades, sabes, tuas e de tudo isso que está tão indefinido, tão indefinido como tu estás às vezes, porque a confusão em que a mala me deixa a cabeça afecta todas estas coisas e, a páginas tantas, quase que desisto d'isto e me faço ao caminho sem mala nenhuma.

quinta-feira, setembro 21, 2006


queda-se, frágil. pergunta ao quarto cansado: o que é o amor, senão a intermitência do respirar?