terça-feira, agosto 29, 2006

e mesmo que as palavras pareçam não valer nada. mesmo que os dias pareçam repetir-se incessantemente. mesmo que as cidades sejam comidas pelas ondas as praias comidas pelas cidades e as mulheres comidas por homens estranhos. mesmo que algumas pessoas morram e outras pareçam só ser capazes de sobreviver. mesmo que haja bombas a rebentar dentro das pessoas e guerras a rebentar cá fora. mesmo que este ano os jardineiros da câmara prefiram as hortênsias aos miosótis. mesmo que os dias pareçam repetir-se incessantemente. mesmo que os referendos fiquem pelo caminho e não se saiba bem se é falta de gasolina ou de condutor. mesmo que aos catorze anos ainda te ofereçam caixinhas de música. mesmo que aos vinte desejes secretamente que repitam a graça. mesmo que o teu melhor amigo se veja envolvido numa corrida de carros numa recta a caminho de casa e nunca chegue ao destino. mesmo que a tua mãe perca a mão para a cozinha. mesmo que o teu corpo pareça não responder. mesmo quando o teu corpo for o único a responder. mesmo que os dias pareçam repetir-se incessantemente. mesmo que te roubem a tua t-shirt preferida. mesmo que quioto não te impeça de derreteres no inverno e congelares no verão. mesmo que o teu escritor preferido tenha decidido dedicar-se mais à família. mesmo que o ryan adams passe só a editar um álbum novo por trimestre. mesmo que porra merda caralho para isto filhos da puta não pareçam suficientemente expressivos. mesmo que o céu esteja cada vez mais perto e a terra cada vez mais longe. mesmo que isso pareça só te fazer confusão a ti. mesmo que ao teu lado durma uma pessoa que não sabes quando faz anos. mesmo que os dias pareçam repetir-se incessantemente. mesmo que eles acabem com os pernas de pau como acabaram com o rol branco. mesmo que as nuvens se extingam e os dinossauros voltem. mesmo que as alfaces passem a ser vermelhas. mesmo que tenhas que parir um par de gémeos. mesmo que o teu clube seja desclassificado por fuga ao fisco. mesmo que o scorcese nunca ganhe o óscar. mesmo que tenhas que ver a tua filha perder o filho dela. mesmo que nunca pareças conseguir encaixar. mesmo que os dias pareçam repetir-se incessantemente. mesmo assim, estarei atento, para poder sempre dizer que me lembro da primeira vez que te vi.
C.

sexta-feira, agosto 18, 2006

sentemo-nos e conversemos longamente sobre a neutralidade. sobre a acalmia, sobre o outono (talvez tenhamos tempo para discutir o inverno, se tudo correr bem e me convidares para um café). falemos sobre como na suiça não há buracos de bala nas paredes dos edifícios. não podemos falar sobre a primavera ou sobre o verão porque são dados a excessos (os corpos descobertos, provavelmente). senta-te aqui, porque estas conversas não se têm de pé, e fala-me de quando foste mais feliz. vamos fazer um gráfico e chegar a uma conclusão. agora posso dançar com toda a gente, dirá a linha vermelha. e posso adormecer quando fecho o livro, traço azul. e as músicas valem por si só e sei que serei capaz de ouvi-las daqui a dez anos. não faças essa cara, sabes bem que é verdade. olha os lagos, os lagos são como a suiça. e não são bonitos? e não te rias, porque depois do teu sorriso não me apetece dançar com mais ninguém.