domingo, setembro 24, 2006

glow

achei piada à maneira como as coisas aconteceram. impiedosamente rápidas, como a rua a fugir na direcção oposta do outro lado do vidro, embaciado, sonolentamente riscado pelas luvas. eu no meio, a sofrer uma dor imaginada pelo tédio dos dias - tédio não será a palavra certa, talvez arrastamento - porque sempre que penso certas coisas elas se detorpam e adquirem novas formas e eu fico como se estivesse há semanas deitado a olhar para as nuvens que são assim mesmo, num estado de confusão inocente que se explica com a minha pequenez (em relação às nuvens, porque em relação aos meus pensamentos será algo mais que um problema de tamanho). tudo isto enquanto recriei paixões por todas as coisas e todas as pessoas, com a voracidade de alguém que vai partir de viagem dentro de pouco tempo e vai pondo tudo na mala, pondo e tirando, achando que tudo é necessário, mesmo as coisas pequenas porque estão cá e fazem parte do que vou deixar, as molduras e todos aqueles livros e a vela que já vai queimada p'la metade e todas as fotografias e aquela caixa de que tanto gosto. mas nunca vai caber tudo na mala e é por isso que o desespero ataca e me sinto com vontade de me sentar quieto na cama a olhar ridiculamente para a parede. sem me deixar pensar nisso. porque sinto saudades, sabes, tuas e de tudo isso que está tão indefinido, tão indefinido como tu estás às vezes, porque a confusão em que a mala me deixa a cabeça afecta todas estas coisas e, a páginas tantas, quase que desisto d'isto e me faço ao caminho sem mala nenhuma.

2 Comments:

At 11:42 da tarde, Blogger M. said...

gostei pela simplicidade e por essa dualidade problemática que nos faz fazer e refazer as bagagens, como se por não saber o que levar connosco ou simplesmente porque nos queremos demorar a partir.
bom texto.
beijo

 
At 11:54 da tarde, Blogger Nokkas said...

"...sem me deixar pensar nisso. porque sinto saudades, sabes, tuas e de tudo isso que está tão indefinido, tão indefinido como tu estás às vezes..."

dizem que as coisas simples, eu nãp as acho tão básicas...

sempre tive medo de deixar de fazer parte de uma mala, hoje ainda mais que ontem!

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