sábado, setembro 30, 2006

But in my silly mind I've gotten married to you

a noite enche-se de mim. e eu até já senti paixão, paixão até aos ossos, até doer e massacrar. e eu até aprendi a ganhar calo e a esquecer as rupturas musculares, a fadiga das noites a pensar em nós, debaixo da neblina das horas. e eu até senti ódio, até aos ossos, até doer e massacrar. e eu até aprendi a esquecer o ódio e a limpar o que odiava. e eu até me lembrei, esta semana, que faço parte daquela raça estranha dos que correm nos passeios e param de correr, logo depois. e eu sei que corro porque os dias andam. eu até sei que nunca chamo as coisas pelos nomes e que troco os adjectivos e conjugo mal os verbos. eu até sei que fui feito para estar sentado em silêncio, mas a vida fez-me entrar na maratona das palavras. and this life is so boring, mas só nos intervalos, quando não há o cheiro da luz.

terça-feira, setembro 26, 2006

Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means that someone can get inside you and mess you up. You build up all these defenses, you build up a whole suit of armor, so that nothing can hurt you, then one stupid person, no different from any other stupid person, wanders into your stupid life...You give them a piece of you. They didn't ask for it. They did something dumb one day, like kiss you or smile at you, and then your life isn't your own anymore. Love takes hostages. It gets inside you. It eats you out and leaves you crying in the darkness, so simple a phrase like 'maybe we should be just friends' turns into a glass splinter working its way into your heart. It hurts. Not just in the imagination. Not just in the mind. It's a soul-hurt, a real gets-inside-you-and-rips-you-apart pain. I hate love.

Neil Gaiman.

domingo, setembro 24, 2006

glow

achei piada à maneira como as coisas aconteceram. impiedosamente rápidas, como a rua a fugir na direcção oposta do outro lado do vidro, embaciado, sonolentamente riscado pelas luvas. eu no meio, a sofrer uma dor imaginada pelo tédio dos dias - tédio não será a palavra certa, talvez arrastamento - porque sempre que penso certas coisas elas se detorpam e adquirem novas formas e eu fico como se estivesse há semanas deitado a olhar para as nuvens que são assim mesmo, num estado de confusão inocente que se explica com a minha pequenez (em relação às nuvens, porque em relação aos meus pensamentos será algo mais que um problema de tamanho). tudo isto enquanto recriei paixões por todas as coisas e todas as pessoas, com a voracidade de alguém que vai partir de viagem dentro de pouco tempo e vai pondo tudo na mala, pondo e tirando, achando que tudo é necessário, mesmo as coisas pequenas porque estão cá e fazem parte do que vou deixar, as molduras e todos aqueles livros e a vela que já vai queimada p'la metade e todas as fotografias e aquela caixa de que tanto gosto. mas nunca vai caber tudo na mala e é por isso que o desespero ataca e me sinto com vontade de me sentar quieto na cama a olhar ridiculamente para a parede. sem me deixar pensar nisso. porque sinto saudades, sabes, tuas e de tudo isso que está tão indefinido, tão indefinido como tu estás às vezes, porque a confusão em que a mala me deixa a cabeça afecta todas estas coisas e, a páginas tantas, quase que desisto d'isto e me faço ao caminho sem mala nenhuma.

quinta-feira, setembro 21, 2006


queda-se, frágil. pergunta ao quarto cansado: o que é o amor, senão a intermitência do respirar?

sábado, setembro 16, 2006

motion sickness

na madeira estreita da tua paisagem, no encosto da tua cabeça, estilizada atrás de ti como uma linha ténue e flutuante que torna a tua pele mais branca e luminosa, estilhaço os olhos como um medo de te olhar na vulnerabilidade completa da tua beleza nua. deitado, talvez a dormir, não sei, só no meu sonho, distraído, tu ali assim, como um poema ou uma cascata de fumo, à espera que eu recolha os jardins suspensos, os faróis e as pirâmides para tos dar, para tos pousar sobre o ventre quente, para te acalmar o sono da morte lenta e dançável. tu, como uma criança pequena que cabe na minha mão, como um enigma universal que não cabe na minha cabeça, como apenas mais um ser tão igual aos outros que me mete impressão que te veja de forma tão diferente. mas eis o que há em ti, o sono, já contei a história a mim mesmo que me tinha trazido até ti, vou-me agora embora para o mundo onde não existes sequer porque não há mulheres tão belas como tu que durmam e me façam pensar tudo isto. só no meu sonho. distraído. a dormir também, talvez, em pé. em pé e no autocarro, no metro, nas ruas, nos cafés, sempre a dormir em pé em todos os sítios desde que acordo de manhã até voltar a adormecer à noite. porque é isso que faço, durmo sobre mim mesmo e sonho para mim mesmo todas as coisas possíveis de acontecer num dia em que não estivesse a dormir tanto que não conseguisse estar acordado. mas quando acordo realmente, em efémeros e estonteantes segundos-vácuos à velocidade da luz, penso no que me fará dormir tanto, porque o mundo até é bonito quando se está acordado e se olha para as coisas sem sonhar como elas seriam se estivéssemos acordados. tudo isto consegue ser um bocadinho mentira porque eu até acho que vivo bem acordado, depende da perspectiva. acordo, de manhã, para mim mesmo e para o que há dentro de mim e do meu sonho: o mundo corre na estrada da minha sensação e subjectividade, mas não será assim que correm todos os mundos? eu não sei. não deve haver modo de saber, de qualquer maneira. mas gosto de sentir o mundo correr por dentro de mim, quando subo aquelas ruas e canto para dentro as músicas que gosto de ouvir e olho para as casas e sei sonhar o que lá está dentro, assim como sei sonhar os meus pensamentos e os das outras pessoas de acordo com o mundo que é aquele a sério, sem estradas nem movimento.

sábado, setembro 09, 2006

É que o amor é como uma árvore, que cresce por si mesma, que enterra profundamente as raízes em todo o nosso ser e continua a vicejar sobre um coração em ruínas.
E o que há de inexplicável é que quanto mais cega é essa paixão, mais tenaz se mostra. Quanto menos razão tem, mais sólida se afirma.
in Nossa Senhora de Paris, de Vitor Hugo

sexta-feira, setembro 08, 2006


há certas coisas que, à partida, já estão condenadas a fracassar - ou a não terem sequer hipótese de provar o fracasso, caso estejam condenadas desde o principio a não serem nada.
isso acontece por diversos motivos.
na "minha coisa" o motivo sou eu, e cabe-me a mim (e aos outros, noutras situações) reconhecer que o sou. e reconheço-me.
eu não coloco, conscientemente, barreiras à minha frente, não existem entraves... existem sim sentimentos, pior, existem dois corações prestes a explodir, e qualquer um pode ser o primeiro. resta-me evitá-lo.
...não é uma questão emocional... é uma questão racional!
(às vezes gostava de ser como o Compleut que não gostava de ninguém e era feliz.)

segunda-feira, setembro 04, 2006

. merda, nada mudou - digo eu.
. e consideras isso positivo ou negativo? - perguntas-me tu.
. sinceramente, neste momento não me encontro em posição de responder com qualquer uma das duas respostas que me apresentaste como possíveis.
. mas para qual pendes mais? - insistes.
. negativo. não para ti, não para os outros. para mim.
. porque dizes isso?
. porque o nosso tempo acabou, mesmo antes de ter começado... - concluí.



e hoje começou para todos os outros. porque para nós já tinha começado, porque para nós não foi preciso um beijo.
e agora somos um nós diferente.

sábado, setembro 02, 2006

a nostalgia mora em nós e o passado agarra o presente, com a mão toda. pega nele e pousa-o em cima da mesa. eu sento-me, gigante, e olho o passado com os olhos arregalados. penso com os botões, que cosi no casaco, não querer ser agora o que fui, mas não deixo de continuar a querer ter sido o que fui. o passado é um miúdo pequeno, daqueles que se senta com as costas muito direitas, no tampo da mesa. o presente é a mãe que olha o filho, encavalitado e recto, na mesa, nos olhos, sentada na cadeira, e lhe pousa as mãos nos joelhos. eu, cá em casa, olho o meu passado e não quero deixar de ser o que já fui. quero, apenas, ser mais do que sou.
mais do que somos...