segunda-feira, maio 29, 2006

Será?

Sabias que o símbolo da esperança é uma âncora?

Nós lançamos a esperança às águas revoltas da vida, em meio à tempestade, para não sermos arrastados pelas ondas. A esperança é por vezes a única coisa que nos sustenta, contra ventos e marés, presos a uma ideia, a um país, a uma pessoa. Noutras ocasiões, reconheço, a esperança mantém-nos firmemente amarrados, sim – mas a um erro; abandonando a esperança talvez a tempestade nos levasse até uma praia distante e descobríssemos que, afinal podíamos viver de novo e ser felizes.

- Diz-me, se não estou amarrado a um erro quando alimento a esperança de que tu possas mudar?

No fundo da sua alma em ruínas, ele já sabia a resposta: “ ou então de que eu possa mudar?”, “ um de nós vai ter de mudar para que tudo não continue na mesma, não é assim?”.

A mulher olhou-o de frente. Um vento frio arrepiou-o. O mar diante deles estava escuro e tenso. Ela perguntou-lhe:

- Ainda gostarias de mim se eu mudasse?

Ele sabia que não.

Quem ama as tempestades não precisa de âncoras.


José Eduardo Agualusa


Será?

quarta-feira, maio 24, 2006


não disse nada porque nada havia para dizer
amordacei as horas por preencher
não disse nada porque nada havia para dizer
eventualmente o peito deixa de doer
hoje toquei num avião sem tirar os pés do chão
não me deixes ver para além de ti não faz sentido
não faz sentido




Linda Martini



não faz sentido...

quinta-feira, maio 18, 2006

Se...

Se te pedir para voares comigo, voas?
Se te pedir para dançares comigo, danças?
Se te pedir para gostares de mim, gostas?
Se te pedir para me mimares, mimas?
Se te pedir para ficares, ficas?
Se me pedires para esquecer, será que consigo?


..Hope you remember...mesmo que já não faça qualquer sentido para ti...

quarta-feira, maio 17, 2006

- e depois chegas ali e cortamos à direita ou à esquerda que é como se diz não sigas em frente nem voltes para trás vira apenas em alguma direcção... É certo que demoras mais tempo a chegar ao destino mas por outro lado abres a porta às oportunidades que te vão surgindo pelo caminho.


- eu quero é fechar portas e chegar onde quero de uma vez.
Não quero mais, muitos caminhos, muitas portas, muitas opções. Andar aí a abrir portas e a percorrer caminhos ao sabor do vento e da vontade...
Sei o que quero e o que tenho de fazer para o ter. Não vou abrir portas que me dêem a oportunidade de perder isto. Não vou deixar que os desvios me desviem. Nem esquerda nem direita. Sigo em frente.


- então porque é que ainda páras para pedir direcções ?

terça-feira, maio 16, 2006

...Desculpa...

Desculpa se sou imperdoável por vezes. Desculpa se te vi passar na rua e o coração me caiu de novo ao chão, sem saber porque te odeio às vezes. Desculpa se estou tão embrulhado e confuso em mim próprio que nem paro para pensar em ti e em tudo o resto. Desculpa-me o resto. Preciso de desabar da construção de areia dos meus dias, trepar a pirâmide imponente dos meus sonos e sonhos. E ficarei bem, claro que sim, fico bem se tudo estiver bem, se o chão não me fugir aos pés nem todos me fugirem aos olhos. Fico bem se puder olhar à volta e não achar sempre que sou um passageiro temporário de qualquer coisa que ainda não se instituiu como minha. Cair em mim. Que dias tristes...

(..e não consigo parar de pensar em ti..)

domingo, maio 14, 2006

reconhecem-se frequentemente as evidências depois de períodos intensos, bons e/ou maus. essas evidências reconhecem-se na verdade que lhes é inerente, algo ao qual muito se pode fugir mas não negar.

terça-feira, maio 09, 2006

A árvore

Um homem estava sentado nos degraus da porta lateral da igreja.
Observava a árvore.
Eu, como todos os outros, só ouvia os carros ao nosso lado, os carros na auto-estrada, o comboio que passava, o avião que seguia em rumo à Dinamarca.
Atentei no homem e segui-lhe o olhar.
Vi a árvore.
Por momentos deixei de ouvir toda a poluição citadina, e só ouvi o chilrear frenético das dezenas de pássaros que habitavam aquele ser velho e verde.
Olhei o homem.
Ele olhou-me.
Olhei-o mais tempo do que ele me olhou a mim.
Depressa se desinteressou e voltou a olhar para a árvore.
É natural.
A árvore tinha muito mais encanto.
Encontra-se cada vez menos alguém que olhe uma árvore daquela forma.