(en)laço
«Por dentro dos dias assim, respirados através de ti, filtrados pelo teu corpo, olhando-te profunda e avassaladoramente - mesmo quando não o sabes -, há metal fundente. o mesmo metal fundente que existe entre nós - que me queima a pele. o fogo que me mutila a vontade de te ter.
(...)
Nesse desejo de espelhos reflexos de nós, nesse magma incandescente, derreto eu. E escorro por ti, sem nome e sem tempo, sem corpo e sem carne - dado a ti, totalmente dado a ti. Sem me abandonar - ou abandonando-me, sim, mas sem medo. E de repente ser nada, deixar de ser para ser contigo - e isto ser igualmente brutal e belo. E dessa queda, dessa fuga, deste corpo dado a ti, faço-me teu - pertenço-te. E nada me toca, nada me prende, nada me assusta - senão esmagar-te contra mim e não conseguires respirar. Senão asfixiar-te ou rasgar-te as asas. E, às vezes, o lume que me acende e dilacera faz-me pensar e temer não ser ar para ti.
(...)
Não cabe em mim o que sinto - transborda. E nem sempre corre bem. Podia gostar-te menos, gostar-te da maneira controlada e racional com que sempre gostei das pessoas que fiz minhas. Mas já não consigo controlar - já não consigo mutilar o que sinto por ti e circunscrevê-lo num espaço restrito. Porque não se amarra um cavalo selvagem, não se apazigua uma tempestade e não se extingue o fogo voraz (...).
Eu posso tentar. Por ti, posso.
Se quiseres.»
E é dentro desta linhagem que me identifico, sinto-me cheio, preenchido. Cheiro a quem é feliz e brilho como se fosse a estrela principal de uma comédia romântica. E ao mesmo tempo sinto-me leve, como se de um salto só conseguisse chegar ao céu e saboreasse as núvens com a ponta dos meus dedos. E ainda assim, totalmente livre.
E isto deve-se a ti. Obrigado, C.
1 Comments:
Não me apetece dizer nada posso ficar só calada ?
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