sexta-feira, junho 02, 2006

o olhar fixo no chão durante mais de sete segundos é a prova oficial e reconhecida de que estás mais recuada para dentro do que te é costumeiro. distribuído ao longo do dia, o gesto surge diluído na tua expressão, mas eu sei, porque aprendi a reconhecer estas coisas ao longo do tempo. consolo-me e descanso-me nos teus olhos dezenas de vezes ao dia, sem que te apercebas, e é apenas natural que lhes tenha aprendido as manias e as birras. as pupilas dilatam-se milimetricamente - uma proporção que sei que poderia descrever numa escala absoluta - , ao ritmo do teu sorriso, ao ritmo do reconhecimento da familiaridade nas coisas, ao ritmo da alegria; fecham-se no processo lógico, na seriedade do teu mundo formal e condicional, na preparação e na antecipação do que traças. sei isto porque ao ritmo que te sinto, nenhum tutor é tão esclarecido e esclarecedor como a sinuosidade do teu corpo. neste momento, sendo nosso, escuso-me por alguns pequenos ensejos e decorro para ti, para aquilo em que pensas e que sentes. quero apenas procurar-te na morada dos teus lábios e nos teus dedos, festejo-te com o meu rosto no teu e intento amar-te o mais que posso, neste momento – que é último.