quarta-feira, junho 28, 2006

No words No title

deito-me tarde para te dar tempo de chegares cá.
não quero dormir sozinho de ti, mas nunca vens e não fico acordado à espera.
a realidade ocupou o lugar do teu corpo com pedidos que o dissolvem no silêncio ocasional dos erros que não choro. que não choro. que não choro.
desperta-me com o ruído agudo da porta que se abre ante o luar da tua boca e diz que aqui é o único lugar onde queres estar.

sou o último a acordar.
o Sol já nem se dá ao trabalho, passa sem parar na minha janela.
às vezes abro os olhos para procurar um sítio seco na almofada babada e não o encontro.
levanto-me, então, com a cabeça dorida e pesada por ter sonhado tanto e com tanta força.
rompo uma brecha nos lábios, descosendo-os, na tentativa de inspirar um ar novo e bom.
A minha apatia acre parece ter-se alastrado por todo o espaço do quarto.
deito o cabelo sujo e irregular às mãos, como tentando descobrir uma flor ainda viva num jardim inóspito e há muito deixado ao abandono. as linhas negras do meu cabelo estão quentes.
talvez não seja preciso ligar o fogão, aqueço o pequeno-almoço na minha testa.
a electricidade está cara. a vida está cara.
e eu sou um mendigo demasiado orgulhoso para estender a mão.
o mundo é a primeira pessoa do singular.
o mundo que morra e volte cá sem mim.